|
O
NOSSO BOM FIM DE SEMANA João de Freitas O nosso direito de trabalhar cinco ou seis dias seguidos de um descanso
remunerado não é antigo. Contudo, devemos sua origem remota aos sacerdotes
caldeus. E não temos que trabalhar oito dias para ter em seguida um sábado e
um domingo, graças ao limite do conhecimento astronômico dos antigos
mesopotâmios, que não puderam avistar Urano, Netuno, nem Plutão. Os
sacerdotes caldeus, ao inventarem as divisões do tempo, o ano (período de
translação da Terra) e o mês (decurso de uma revolução lunar), criaram a
semana (latim septimanas = sete manhãs) em honra aos sete astros que julgavam
gravitar em torno da Terra. “Inventaron...
la semana dividida en siete días, en honor de los siete astros”
(A. Malet, História del Oriente, pág.
118) Os nomes dos dias da semana no
calendário romano, dies solis (dia do
Sol), lunae (da Lua), Martis (de Marte), miercolis (de mercúrio), juevis (de Júpiter),
Viernis (de Vênus) e saturni (de Saturno) mostram a adoração que tinham pelos sete
componentes conhecidos do nosso sistema solar à época, excluída a Terra, que
imaginavam ser o centro do sistema, em vez do Sol.
Iam além: tinham a Terra como o centro do universo. Os
hebreus, que certamente não tinham informação da origem da semana (“septimanas”
= sete manhãs), informaram que o criador do universo fez todas as coisas em
seis dias e descansou no sétimo dia, estabelecendo o dever de não trabalhar no
sétimo dia da semana. Mas a origem
astrológica se confirma pelos nomes que várias línguas dão aos dias. Os
cristãos primitivos, conforme escreveu Paulo aos cristãos de Colossos, não se
submetiam aos preceitos de guardar “dias de festa, lua nova ou sábados” (Colossenses,
2:16). Todavia, posteriormente os cristãos romanos converteram o “dies solis”
(dia do sol) em “dies dominicum” (dia do Senhor), em homenagem à ressurreição
de Cristo, que teria ocorrido no primeiro dia da semana. Posteriormente, “O
papa Silvestre I, líder cristão entre 314 e 335, ... dividiu a semana da
seguinte maneira: feria prima, feria secunda, feria tertia, feria quarta, feria
quinta, feria sexta e feria septima.” (SUPERINTERESSANTE, dez/1999, pág.
21). “Féria” significava comemoração. Para o Papa Silvestre, todos os
dias seriam sagrados. Embora tenhamos adotado os novos nomes dados pelo Papa,
quanto ao sétimo dia prevaleceu a tradição hebraica e o primeiro ficou mesmo
como domingo (dies dominicum ou dominicus
dies). Séculos
depois, Napoleão Bonaparte, que gostava muito de trabalhar, ou queria ver seus
súditos trabalhando mais, substituiu a semana por um período de dez dias. Esse
novo calendário, por sua vez, não agradou a ninguém e foi revogado poucos
anos depois. Quando
o mundo, movido pela Revolução Industrial, se libertou um pouco dos princípios
divinos, o trabalhador empregado já não tinha dia de descanso; laboravam todos
os dias. Entretanto, as conquistas
justrabalhistas retomaram aos poucos o direito de descansar um dia por semana.
Porém, só no Século XX surgiu o “repouso semanal remunerado”, assim como
vieram à existência as férias. Como
se vê, devemos remotamente o nosso repouso aos caldeus e aos hebreus.
Felizmente, os caldeus não descobriram Urano, Netuno e Plutão. Se os
conhecessem, Moisés teria informado que Jeová criara o universo em nove dias,
e nós teríamos uma “demana” (“decimanas” = dez manhãs), tendo que
trabalhar oito ou nove dias consecutivos, como pretendeu, sem sucesso, Napoleão
Bonaparte. O repouso semanal, de
origem astrológica e sagrada, pertence hoje ao âmbito jurídico trabalhista.
|
- - |
OS SETE - Domingo - Segunda - Terça - Quarta - Quinta - Sexta - Sábado |
. . |